Voz Sindical Coreana Clama por Justiça Climática para os Trabalhadores

Alena Morávková
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A denúncia feita por lideranças sindicais da Coreia do Sul durante a COP mostra uma realidade alarmante: muitos trabalhadores estão sendo deixados à margem das políticas climáticas oficiais. Em encontros organizados para debater a transição energética, sindicalistas relatam que o processo de descarbonização não inclui de fato aqueles que mais dependem de indústrias fósseis para sobreviver. Essa falta de participação proporcional reforça uma desigualdade grave entre discurso ambiental e proteção social.

No centro dessa mobilização, dirigentes de mineradoras, usinas a carvão e sindicatos metalúrgicos expõem que a retórica verde do governo muitas vezes esconde um plano que beneficia grandes corporações, enquanto os trabalhadores são relegados ao segundo plano. As lideranças defendem que a transição climática não pode ser apenas ambiental, mas também social. Para eles, uma mudança sustentável exige que os empregados estejam diretamente envolvidos nas decisões, garantindo emprego seguro, proteção social e formação profissional para as novas realidades energéticas.

Durante os debates, também foi destacada a precarização do trabalho em setores estratégicos. Muitos empregados que já enfrentam contratos temporários, terceirização ou jornadas instáveis temem a perda da fonte de renda quando fábricas de carvão forem fechadas. A crise energética que antecede a transição serviu para evidenciar que não existe plano coerente para realocar esses trabalhadores, nem para garantir a manutenção de sua dignidade profissional e familiar no longo prazo.

Além disso, os sindicatos coreanos apontam uma grave concentração de poder econômico em grandes conglomerados, que participam ativamente da formulação de políticas climáticas. Para esses sindicalistas, a influência dessas empresas sobre os rumos da descarbonização trava uma discussão mais ampla sobre justiça social. Eles defendem que o Estado assuma um papel mais protagonista, regulando a participação dessas empresas de forma que o desenvolvimento sustentável não se dê em prejuízo da classe trabalhadora.

Outra crítica forte nessa mobilização se refere ao modelo de governança das políticas climáticas na Coreia. A liderança sindical argumenta que a pressão corporativa, aliada à baixa participação da sociedade civil nas decisões, resulta em políticas frágeis e pouco democráticas. Para seus representantes, é urgente construir mecanismos que permitam o controle popular sobre os rumos da transição energética, evitando que ela se concretize apenas como estratégia de lucro e não como solução justa para todos.

Os relatos apresentados também destacam a vulnerabilidade de comunidades inteiras ligadas à energia fóssil. Trabalhadores de usinas a carvão afirmam que, com os planos de encerramento gradativo dessas unidades, centenas de famílias correm risco econômico. Eles reclamam que não há políticas estruturadas de realocação nem garantias efetivas para sustentar essas populações. Esse abandono evidencia a lacuna entre a promessa de emissão zero e a realidade social vivida por quem construiu a infraestrutura energética antiga.

Em reação a isso, os sindicatos coreanos lançam propostas concretas de transição justa. Eles defendem uma mudança que priorize a energia pública renovável, a participação dos trabalhadores nas decisões e a criação de programas robustos de formação. Além disso, ressaltam a necessidade de uma governança integrada, que combine políticas ambientais, econômicas e trabalhistas para gerar soluções sustentáveis que não sacrifiquem o emprego em nome do clima.

Finalmente, essa mobilização sindical coreana durante a COP reafirma que a justiça climática depende da inclusão real dos trabalhadores no processo de transformação. Sem trabalhadores bem representados e com garantias de proteção, a descarbonização corre o risco de ampliar desigualdades. A voz dos sindicatos coreanos se torna, assim, essencial: eles lembram ao mundo que a transição energética só será legítima se for construída junto com aqueles que diretamente sentem seus efeitos.

Autor: Alena Morávková

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